O CIDADÃO INDAGA ZENÃO

 


    Um cidadão de Eleia, na Magna Grécia, que hoje é parte da Itália, foi até a residência do pensador Zenão cheio de indagações.

    Cidadão: Mestre Zenão, ouço falar das suas paradoxais reflexões. Poderia explicar-me uma delas? Algo simples, para que minha mente comum possa acompanhar.

    Zenão: Claro, meu amigo. Vamos começar com uma que considero esclarecedora. Imagine que você está em uma corrida contra Aquiles, o mais rápido dos homens. Mas você, sendo mais lento, parte com uma certa vantagem. Mesmo assim, você acredita que ele o alcançará?

    Cidadão: Sim, sem dúvida. Aquiles é incrivelmente veloz, ele me ultrapassaria em pouco tempo!

    Zenão: Então ouça o que digo: por mais rápido que Aquiles seja, ele jamais o alcançará.

    Cidadão: Como pode isso ser verdade? Ele é muito mais rápido, é inevitável que me ultrapasse!

    Zenão: Pense comigo. Quando Aquiles chega ao ponto onde você começou, você já se moveu um pouco mais à frente, correto?

    Cidadão: Correto, mas será apenas uma pequena distância.

    Zenão: Exatamente. Agora, enquanto Aquiles percorre essa nova distância para chegar onde você está, você novamente já se deslocou um pouco mais. Não importa o quanto ele corra, a cada vez que ele atinge o ponto onde você estava, você já avançou, ainda que de forma menor. Essa sequência se repete infinitamente.

Cidadão: Então, você diz que, embora a distância entre nós diminua, Aquiles nunca conseguirá me alcançar porque sempre estarei um passo à frente?

    Zenão: Isso mesmo. O paradoxo está no fato de que, embora logicamente Aquiles pareça aproximar-se de você a cada momento, a infinita divisão da distância impede que ele o alcance plenamente.

    Cidadão: Mas isso contradiz o que vejo no mundo real! Eu sei que Aquiles me ultrapassaria sem problemas!

    Zenão: Sim, é natural que assim pareça aos olhos comuns. Meus paradoxos não negam que as coisas acontecem no mundo, mas servem para mostrar que a maneira como pensamos sobre tempo, movimento e continuidade talvez seja falha. O mundo não é tão simples quanto parece.

    Cidadão: Isso me confunde ainda mais, Zenão. Se o que vemos não condiz com o que a razão sugere, como podemos confiar em qualquer coisa?

    Zenão: Talvez o problema esteja justamente em como interpretamos o que vemos e no que acreditamos ser absoluto. O paradoxo revela limites do raciocínio e da percepção, convidando-nos a questionar o que julgamos ser óbvio. Se buscamos a verdade, devemos sempre estar prontos para reexaminar nossas certezas.

    Cidadão: Então, o propósito de suas ideias não é nos dar respostas claras, mas nos provocar a pensar além da superfície?

    Zenão: Exatamente. A sabedoria não reside em respostas fáceis, mas na busca incessante por entender o que, à primeira vista, parece insondável.

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