Rui Barbosa e a Abolição

 


    Rui Barbosa (1849-1923) foi um dos mais importantes intelectuais, políticos e juristas brasileiros do final do século XIX e início do século XX. Ele teve uma atuação relevante em diversas áreas, inclusive na questão da abolição da escravidão e na inserção dos negros no Brasil pós-abolição.

    Rui Barbosa e a Abolição

    Rui Barbosa era um abolicionista convicto e teve um papel importante na luta pela abolição da escravidão. Embora a abolição oficial tenha ocorrido em 1888, ele já defendia, desde o início da década de 1870, a libertação dos escravizados, argumentando que a escravidão era incompatível com a moralidade e com o progresso do país. Para ele, manter o sistema escravista significava atrasar o desenvolvimento do Brasil.

    Durante o governo de Deodoro da Fonseca, Rui Barbosa atuou como Ministro da Fazenda (1889-1891), logo após a Proclamação da República. Uma das suas decisões mais polêmicas e discutidas até hoje foi a destruição dos arquivos da escravidão, um episódio que ficou conhecido como a “queima dos livros de matrícula”.

    A Queima dos Arquivos da Escravidão (1890)

    Rui Barbosa, como Ministro da Fazenda, ordenou a destruição de todos os documentos relativos à escravidão, incluindo registros sobre a compra, venda e posse de escravos. Essa decisão foi motivada por vários fatores: 

    Eliminar os vestígios legais da escravidão: Rui Barbosa argumentava que, com a abolição da escravidão em 1888, o país precisava se afastar definitivamente daquele passado sombrio, eliminando qualquer traço jurídico que pudesse permitir indenizações ou reintegração de posse de ex-escravos.

    Prevenir pedidos de indenização: Após a abolição, muitos ex-proprietários de escravos começaram a pedir indenizações ao governo pela perda de seus "bens", ou seja, os escravos libertos. Rui acreditava que, ao destruir esses registros, impediria que os ex-senhores fizessem esses pedidos, evitando onerar o Estado e complicar ainda mais a transição para uma economia sem escravidão.

    Essa decisão, no entanto, teve consequências negativas, especialmente para a população negra, porque a destruição dos documentos apagou parte da história dos antepassados africanos escravizados, dificultando pesquisas sobre a história da escravidão e as origens das famílias negras no Brasil.

    Rui Barbosa e os Negros no Pós-Abolição

    Apesar de sua postura abolicionista, Rui Barbosa e outros intelectuais da época não propuseram políticas eficazes de inclusão social e econômica para os negros após a abolição. A abolição da escravidão no Brasil foi realizada sem um plano de integração dos ex-escravos à sociedade. Não houve políticas de redistribuição de terras, oportunidades de trabalho ou educação formal para os negros, o que os deixou em condições de marginalização social.

    Rui Barbosa, assim como muitos outros liberais da época, acreditava que a modernização do Brasil passava pela imigração europeia. Ele via os europeus como portadores de "cultura e civilização" que ajudariam a transformar a economia brasileira em uma baseada no trabalho livre e remunerado. Essa visão ignorava a população negra recém-liberta, que foi excluída do processo de inserção social e econômica.

    Crítica à “Solução” de Rui Barbosa

    Embora Rui Barbosa tenha sido um grande defensor da liberdade e da abolição, sua falta de ação concreta para os negros após a abolição é frequentemente criticada. Ele não conseguiu, como muitos de sua geração, formular políticas eficazes que resolvessem as condições precárias dos ex-escravizados. A população negra, deixada à margem, enfrentou uma série de desafios, como pobreza, discriminação e falta de oportunidades, uma situação que se prolonga por gerações.

    Conclusão

    Rui Barbosa teve um papel importante na abolição da escravidão e contribuiu para a construção do pensamento republicano e liberal no Brasil. No entanto, suas ações, como a queima dos arquivos da escravidão e a ausência de políticas públicas de inserção dos negros no pós-abolição, são lembradas como omissões graves, que contribuíram para a marginalização dos negros na sociedade brasileira após o fim da escravidão.

 

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