O ENCONTRO DE AQUILES COM TIRÉSIAS
Aquiles, o invencível guerreiro dos gregos, caminhava pelas sombras do Submundo. Ele buscava respostas para as angústias que lhe atormentavam a alma, mesmo após sua grandiosa vida na Terra. Ao chegar à encruzilhada entre o rio Estige e os Campos Elísios, avistou uma figura de olhos vazios, mas de visão infinita: era Tirésias, o grande adivinho.
— Aquiles, herói imortalizado nos cantos dos homens, o que buscas além da morte? — perguntou Tirésias, sua voz ecoando como um sopro de vento através de uma caverna.
Aquiles, em sua armadura etérea, respondeu com a força de seu coração, mas o peso da dúvida em sua voz:
— A glória me foi prometida, e conquistei-a com sangue e sacrifício. Mas por que, ó sábio Tirésias, ainda sinto a sombra do arrependimento? É a glória eterna tão vazia quanto os ecos das batalhas?
Tirésias sorriu levemente, como quem já conhecia a resposta antes mesmo da pergunta ser formulada.
— A glória que buscaste era mortal, Aquiles. Ela é para aqueles que ainda vivem e falam de ti. Mas, para aqueles que aqui estão, é a sabedoria, não a glória, que dá sentido à eternidade.
Aquiles, sempre impetuoso, fitou o adivinho e retrucou:
— E o que me resta, então, se não a glória? Se minha espada já não pode cantar nas batalhas, o que devo buscar?
Tirésias ergueu sua mão, apontando para o horizonte invisível do Submundo.
— Busca dentro de ti, Aquiles. A tua força foi tua maldição, mas também a tua bênção. Agora, liberto da carne e do orgulho, aprenderás que o maior de todos os inimigos é o que repousa em tua alma. Vence-o, e encontrarás a paz que nem mil vitórias te trouxeram.
Aquiles permaneceu em silêncio, compreendendo pela primeira vez que a batalha que agora enfrentaria era interna. A eternidade, pensou ele, seria o campo dessa nova luta.
E assim, o herói e o sábio permaneceram juntos, contemplando as profundezas da alma, enquanto o tempo, ali, já não mais existia.
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