ODISSEU CONVERSA COM SEU FILHO TELEMACO
Odisseu olhando para o horizonte, as mãos calejadas pousadas sobre o joelho dia: "Telemaco, meu filho, as viagens me ensinaram muito sobre os homens e seus destinos, mas ainda me pergunto: há um verdadeiro controle sobre o que enfrentamos, ou somos meros joguetes das vontades dos deuses?"
Telemaco, pensativo, observando o mar, responde: "Pai, cresci ouvindo histórias sobre suas aventuras, as ciladas de Poseidon, os encantos de Circe, as promessas de Atena. Às vezes, parece que o destino dos homens é decidido antes de nascermos, como se nossos passos já estivessem traçados."
Odisseu com um leve sorriso diz: "Ah, meu filho, também já pensei assim. Havia tempos em que acreditei que meu destino era inescapável, que as forças além de mim controlavam cada escolha que eu fazia. Mas quando lutei contra Cila e Caríbdis, não foram os deuses que remaram. Quando fiquei cativo na ilha de Calipso, fui eu que nutri o desejo de voltar, mesmo quando o conforto tentava me prender."
Telemaco indaga: "Então, você acredita que temos escolha, mesmo contra a vontade dos deuses?"
Odisseu assentindo diz: "Sim e não. Os deuses podem colocar obstáculos no nosso caminho, mas o modo como os enfrentamos — isso, Telemaco, pertence a nós. Atena podia me guiar, mas cada passo, cada remoada do meu navio, era movido por minhas mãos. Não é o destino que define nossa essência, mas como nos posicionamos diante dele."
Telemaco ainda reflexivo fala: "Mas e a dúvida, pai? Aquela que surge em cada decisão? Será que é a razão ou o coração que nos guia corretamente?"
Odisseu, respirando fundo, como se voltasse a viver seus dilemas diz: "Essa é a batalha mais difícil, meu filho. O coração muitas vezes deseja o que é mais simples, o que é mais rápido. A razão, por outro lado, nos lembra das consequências, das longas jornadas, dos sacrifícios. Mas nenhuma delas deve ser a única voz. Quando retornei a Ítaca, fui guiado por ambos: meu coração ansiava por minha terra e por Penélope, mas foi a razão que me fez retornar disfarçado, ser paciente, observar antes de agir."
Telemaco continua: "Então, a verdadeira sabedoria está em encontrar o equilíbrio entre o desejo e o pensamento?"
Odisseu lhe diz: "Exatamente. Só somos completos quando aprendemos a ouvir ambos. Há uma parte divina em nós, uma centelha que nos torna capazes de criar nossos próprios destinos, mas ela só brilha quando entendemos que nem tudo depende de nós, nem tudo depende dos deuses. É um constante navegar entre o caos e a ordem, entre o que podemos controlar e o que devemos aceitar."
Telemaco, ponderando as palavras do pai, diz: "E o que farei quando chegar minha vez de enfrentar os mares incertos da vida?"
Odisseu, com um olhar de orgulho fala: "Lembre-se, meu filho, de que o caminho não será fácil. Haverá ventos contrários, deuses caprichosos, e você muitas vezes será tentado a desistir. Mas o que te fará continuar será saber que você é mais do que o destino traçado. Você é a soma de suas escolhas, de suas lutas, e de como encontra sentido em cada decisão."
Telemaco, olhando para o pai, com uma expressão firme diz: "E quando a dúvida vier, eu saberei que sou o capitão do meu próprio destino."
Odisseu amável diz: "E quando as águas forem traiçoeiras, lembre-se de que é o seu espírito que mantém o leme firme."

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